Clarisse e Alex

 

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Prelúdio de um recomeço

Clarisse estava confusa. Havia acabado de expulsar de sua vida mais um dos já incontáveis homens perfeitos que haviam lhe jurado amor e fidelidade eternas. Sentia-se injusta por ter encontrado tanto desses caras perfeitos nos últimos três anos, desde que se formara dar um fora em cada um deles da maneira mais fria e inesperada o possível.

O que estava errado afinal? Todos haviam sido carinhosos, românticos e quase surreais. Cada um com seu tipo de sexo, mas nenhum havia lhe humilhado ou causado dor. Por que então parecia tão doloroso acordar a cada dia com um deles ao lado na cama?

O problema estava nela, em algum canto que não conseguia mais se recordar onde. Acordava durante a madrugada sentindo um vazio que não sabia dizer de onde vinha, o que causara. O problema devia ser tão profundo que mesmo horas de meditação olhando pela sacada não traziam qualquer pista.

O passado. Ali devia ser a raiz de todo o mal que lhe corria pelos cantos:

― Clarisse, eu tenho novidades pra você. ― disse Ricardo, apoiando-se sobre a borda da ilha de trabalho da jornalista. Era seu vizinho direto da esquerda e fazia questão de não ser esquecido por uma manhã que fosse.

― Espero que seja realmente algo fantástico. ― foi o que conseguiu responder Clarisse, com a voz anasalada.

― Você andou chorando pelo Roberto? Não foi você que disse que tinha que terminar logo? ― estranhou o companheiro de trabalho, franzindo a testa e perdendo o rumo da conversa mais rápido do que a outra esperaria.

― Não chorei por ele. Chorei porque chorei. ― repondeu Clarisse. ― E qual é a novidade?

― Ah, claro. Eu acabei de descobrir quem vai vir transferida pra cá, como fotógrafa da coluna semanal! ― disse Ricardo, com uma felicidade de causar inveja, aparentemente acreditava que havia dito algo que deveria supreender, mas a reação de Clarisse não poderia ser mais oposta.

― Quem? ― perguntou simplesmente, sem entender o que o amigo queria dizer.

― Alex, sua boba! A nossa Alex! ― explicou Ricardo e começou a contar como havia decoberto este grande furo, só que Clarisse não estava mais conseguindo absorver o que ele dizia.

Alex, claro que ela sabia bem quem era. Sua melhor amiga durante toda a faculdade, companheira de festas, viagens, bebedeiras para esquecer aquele cara fascinante que havia se revelado um verdadeiro galinha. A coisa mais próxima do que Clarisse poderia considerar como alma gêmea, pois as duas se entendiam de uma maneira tão perfeita e complementar que bastava um olhar para uma saber como a outra estava se sentindo.

Uma pessoa tão marcante com quem Clarisse perdera o contato logo após a formatura da fotógrafa, pois esta mudou-se para uma cidade promissora do interior do estado, relativamente distante, para estagiar uma grande editora. Tentar relembrar como havia sido a despedida porém trouxe um sentimento doloroso e uma confusão extra para a cabeça da repórter que a surpreendeu.

Vazio. Era o mesmo que sentia durante todos aqueles anos ao lado dos amantes. O que as duas coisas tinham em comum?

― Você nem está me escutando, não é mesmo? ― reclamou Ricardo, finalmente trazendo a outra de volta para a realdade.

― Ah, desculpa. Estou com a cabeça cheia. Sabe, eu demorei até a lembrar da Alex! ― mentiu Clarisse, sorrindo em disfarce. ― Mas que ótimo saber que ela está voltando!

― É, você deve esta mesmo feliz, Clarisse. ― ponderou Ricardo, com um sorriso de lado que fez o estômago de Clarisse se encolher.

― Hã? ― questionou, sentindo uma impaciência se motivo.

― Esquece, vamos trabalhar. ― cortou o repórter científico, voltando para sua ilha de trabalho. Como sempre estavam com um prazo apertado, então a mulher não insistiu no assunto.

O dia e a semana inteira se transcorreu num piscar de olhos. Os problemas sobre namorado pareceram pequenos e ultrapassados para Clarisse, afinal Alex estava voltando! Ainda que não soubesse exatamente o que isso tinha de tão especial para estar fazendo-lhe ir dormir tarde da madrugada, assistindo a velhos seriados da tv a cabo.

Ricardo não mais tocou no assunto antes da sexta-feira, mas Clarisse pode perceber claramente as olhadas de observações de canto que o amigo antigo fazia volta e meia, enquanto a jornalista estava tentando se concentrar nos seus artigos atrasados. Se não o conhecesse bem teria pensando inclusive que estava se interessando nela, mas essa chance já havia sido descartada a muitos anos. No início da faculdade ela havia de fato se apaixonado a primeira vista pelo rapaz mais belo e, naquela época, inteligente da turma do terceiro período, Ricardo Bandeira. Porém suas investidas foram logo vistas como inúteis, quando ele a segredou que, na verdade, estava mais interessado em um calouro de Artes Plásticas.

Já passavam das duas da tarde quando o colega e vizinho de ilha finalmente entrou no assunto:

― Hei, Clarisse. Vamos sair as quatro para rececionar a Alex no aeroporto! ― sugeriu ele com a maior naturalidade, como se tivessem comentado sobre isto durante a semana inteira, ainda que sequer ele tivesse passado qualquer informação sobre a data de chegada da nova colega. Clarisse se viu confusa, tentando apreender o fato tanto que de a amiga estava chegando bem mais cedo do que esperava e que iriam sair da redação mais cedo ainda que o trabalho ainda estivesse atrasado para a quinta da outra semana.

― Claro. ― foi a resposta imediatava da jornalista.

Horas depois, Ricardo estacionou o pequeno carro em uma das disputadas vagas próximas à saída do saguão do aeroporto internacional. Uma multidão de transientes parecia um mar de vida e diversidade, em meio a empresários que somente chegavam de mais uma ponte aérea e turistas de todas as partes do planeta que desenbarcavam para descobrir as maravilhas daquela cidade privilegiada.

Aguardaram próximos à saída do portão de desembarque de letra H, como Ricardo dissera. Pelo visto vinha se comunicando constantemente com a fotógrafa, pois foi revelando detalhes da rotina e da vinda da mulher de volta para a cidade que não dissera antes.

Ou será que Clarisse apenas não havia prestado atenção no que havia lhe sido dito na terça-feira fatídica?

― Hei, Alex! Aqui! ― chamou o homem, sacudindo os braços no ar e Clarisse despertou tentando seguir a direção do olhar do amigo para ver quem poderia estar se proximando cheia de malas.

Após alguma procura finalmente pode ver, por dentre a multidão e malas a figura que ainda guardava fresca na mente.

Os cabelos negros lisos caindo sobre a face e ombros, a pele tão clara quanto delicada e as roupas escuras. Sempre escuras que Alex costumava a trajar mesmo durante o verão escaldante, assim como no gelo do inverno. Trazia um óculos escuros pendurados no colarinho e uma bagagem arrascando logo atrás de si. E foi ao focar em seus olhos negros que Clarisse foi invadida por uma onda de lembranças e sentimentos que a tiraram por completo da realidade por um instante.

Os estudos em conjunto. As fotos carinhosas que tiravam sempre. O ombro amigo que Alex sempre tinha para as crises de choro deseperado e imotivado da outra. Abraços apertados, olhares significativos. Tristeza e ansiedade sem igual invadiram o peito de Clarisse quando suas lembraças avançaram até o ponto fatídico que sozinho esclarecia todos os mistérios dos seus vinte e oito anos de vida.

A tarde onde se despediram, quando Alex passou no apartamento que Clarisse já habitava para pegar uns equipamentos de fotografia que esquecera de empacotar. A jornalista não sabia se havia sido um acidente ou alguma brincadeira do destino para que se vissem mais uma vez, depois da dolorosa despedida regada a muito alcool com o grupo de amigos. Havia um silêncio ainda mais pesado de incomodo entre elas naquela tarde final.

Ainda mais do que qualquer outro momento após uma bela fotografia ou antes de um 'até logo'. O silêncio pesado de duas pessoas que pareciam prestes a deixar que o último raio de luz do sol lhe escapasse por entre os dedos.

Um quase beijo e todas as certezas que tornaram a noite seguinte a mais trágica e solitária da vida da estagiária de redatora. Mesmo depois de quase quatro anos, a lembrança da respiração de Alex sobre a sua bele, tão perto, ainda fazia seus pés quase cederem, em meio ao saguão do aeroporto.

Como havia esquecido por completo de quem era? Talvez pelo mesmo motivo que a fizera ignorar a realidade durante aqueles anos de juventude. Covardia, talvez pura hipocrisia. Fora a pessoa mais eficaz do universo em enganar-se, chegando ao ponto de esquecer por completo de partes de si impossíveis de sufocar. Agora, com tudo à tona, ficavam óbvias as respostas para todas as suas questões.

Quando Alex estava perto o bastante, abraçou Ricardo, que tinha um sorriso imenso e fintou demoradamente o castalho do olhar de Clarisse:

― A quanto tempo, Clarisse.

A mulher teve certeza de que daquele momento em diante sua vida daria tantas voltas que acabaria por lhe levar a algum paraíso, ou inferno, que sequer conseguia imaginar.

― Bem vinda de volta. ― foi o que respondeu.

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Nova vida e antigos sentimentos

Em meio a um desembargue tumultuado Alex conseguiu identificar em meio à confusão o aceno de um rapaz sorridente. Ricardo, exatamente o mesmo de três anos antes, pensou a fotógrafa, ao retribuir o gesto. Um tremor involuntário varreu o corpo desta quando enfim enxergou a pessoa que acompanhava o antigo colega de faculdade. Alex fez o melhor possível para não deixar a avanlanche de sentimentos transparecer na sua expressão.

Clarisse, quase a mesma Clarisse que se recordava. Os cabelos castanho alourados estavam mais compridos do que se recordava e pareciam menos disfarçados por tratamentos. As roupas também eram outras, mais sociais e neutras. Era o que se esperaria de uma redatora de uma renomada revista informativa mensal, pensou Alex. Também havia algo de diferente na expressão de Clarisse, pensou essa enquanto percorria os metros restantes entre ela e os dois, um quê muito maior de maturidade do que se recordava ver no rosto sempre sonhador da antiga amiga. Aquela que, concluiu naquele instante, ainda continuava sendo sua grande paixão não-resolvida.

— Alex, bem vinda! — exclamou Ricardo se adiantando para um abraço. Depois do carinhoso aperto, o homem fintou o rosto da fotógrafa com carinho.

― Oi. ― respondeu Alex, já voltando o olhar para a outra mulher. ― A quanto tempo, Clarisse.

― Bem vinda de volta. ― respondeu Clarisse, de modo um tanto automático.

— Oi, oi pessoal. — cumprimentou Alex, detendo-se por um instante, tentando decifrar a expressão um tanto distante da outra mulher.

— Ei, você deu uma melhorada no visual ein. — comentou Ricardo, referindo-se às mechas irregulares da recém-chegada, que tinha sido cuidadosamente despenteadas buscando um charme mais rebelde.

— É, demorei para acertar o jeito de arrumar, mas acho que estou satisfeita agora. — respondeu esta, agarrando uma das pontas da mecha que deixava caída à frente da orelha direita.

— Então, viemos para te dar uma carona de táxi para sua nova moradia.— disse Ricardo, gentilmente pegando a bolsa de ombro que Alex trazia consigo, além da alça da mala de rodinhas, já caminhando para a saída do aeroporto.

— Carona de táxi. Essa foi boa. — riu-se Alex, seguindo o rapaz, assim como fez Clarisse.

— Se você não vai pagar, então é uma carona. — argumentou Ricardo.

— Mas se a corrida é exclusivamente para me levar até lá fica meio estranho chamar de carona. — contrapôs Alex.

— Você é sempre tão racional. — reclamou Ricardo e as duas mulheres riram do tom irritadiço que ele utilizou.

Uma vez no táxi, com Alex sentada na frente e os dois redatores no banco de trás, o longo trajeto até o apartamento que a repórter fototográfica alugara começou a ser percorrido. As conversas eram todas puxadas e mantidas por Ricardo. Clarisse continuou sendo a que menos se envolveu nos assuntos. Levou cerca de meia hora para que o táxi alcançasse o destino e os três subissem para o apartamento.

Quando destrancou a porta e adentrou pela primeira vez no novo apartamento Alex sentiu-se mais uma vez feliz por poder confiar em Cíntia para cuidar desse tipo de assunto. Até então ela não havia visto o lugar a não ser por fotos, e vazio. A irmã não só cuidara dos detalhes imobiliários como também decorara todo o lugar de modo agradável. Mesmo as duas tendo gostos tão distintos sua irmã mais velha entendia bem o gosto da caçula:

— Noooossa, a Cíntia é uma decoradora de mão cheia! — exclamou Ricardo, depois de depositar as duas bagagens a um canto, dando uma boa olhada na sala. — Estou até me arrependendo de não ter seguido para a área de fotografia. . .

— Não é pra tanto. A mana consegue ótimos preços com os fornecedores dela. — comentou Alex, indo até a pequena varanda. Um toque de celular a fez voltar o olhar de volta para o cômodo. Clarisse tirava seu aparelho.

“Alô? Ah, sim Valter, posso falar sim.” começou Clarisse, franzindo a testa. “O que? Agora? Mas eu pensei que. . . Eu sei que não, mas. . . Não senhor, eu só não entendi porque tão de repente. . . Não, por mim tudo bem, não se preocupe. . . Certo. Meia hora. Ok, até.”

― Qual foi agora, Clarisse? O Valter te chamou? ― perguntou Ricardo, já exasperado.

― O diretor de conteúdo resolveu adiantar uma reunião de conteúdo do próximo especial. Ia ser só na terça, mas ele não quer esperar. ― explicou Clarisse, com a expressão de frustração evidente. ― Vou ter que ir.

― Tudo bem, garota. Você tem muito futuro na editora, é importante estar presente sempre que te chamam. ― disse Ricardo, tentando consolar a amiga que parecia desapontadíssima. ― Nunca que eles iriam chamar o Ricardinho aqui para uma reunião, afinal sou insignificante. É um ótimo sinal!

― Eu sei. ― concordou Clarisse, apesar de não parecer animar-se muito. ― A-Alex, desculpe por isso, eu. . .

― Tudo bem. ― apressou-se em dizer a fotógrafa. ― É como o Ricardo falou, é uma coisa boa eles te chamarem.

Alex foi com Clarisse de volta à entrada enquanto Ricardo ficou na sala, apenas observando. A fotógrafa abriu a porta para a outra e saiu com esta, fechando ligeiramente a entrada. Clarisse virou-se para esta, ainda portando uma boa dose de frustração:

― Desculpe de novo, Alex. ― disse. ― Não queria ter que sair tão de repente. Mal conversamos.

― Não se preocupe. Logo vamos ser colegas de trabalho, mesmo que de redações diferentes. ― disse Alex, sorrindo talvez mais do que gostaria.

― Certo. ― concordou Clarisse. Então, depois de um instante de hesitação das duas partes, Clarisse passou os braços pelo corpo da antiga amiga, em um abraço um tanto desajeitado. ― Vou indo, então.

― Está bem. ― disse Alex, depois de que soltaram o breve aperto. ― Cuide-se.

― É bom que esteja de volta, Alex. ― disse Clarisse, evitando o contato visual direto.

― É, também acho. ― o calor no peito da fotógrafa cresceu com aquelas palavras, quase tirando sua capacidade de responder. ― Bom te ver, Clari.

Clarisse nada respondeu, apenas sorriu e acenou com a cabeça, tomando enfim o caminho da saída. Alex seguiu com o olhar seu percurso até esta sumir na entrada das escadarias. Depois retornou ao apartamento, trancando a porta e indo até o sofá onde Ricardo já estava sentado. Acomodou-se ali ainda com a cabeça um tanto aérea, sem dar-se conta do sorriso que ainda perdurava no rosto. Ricardo porém não deixou o detalhe passar desapercebido:

― Ela continua linda como sempre, né. ― disse ele. Alex despertou do seu devaneio com aquele comentário e fintou a expressão de divertimento do antigo amigo.

― Isso. ― respondeu ela, meio atravessada, sentindo o rosto esquentando diante do olhar do outro. ― Digo, sim. Verdade.

― Parece que essa saída inesperada ajudou a quebrar um pouco o gelo entre vocês, não é? ― comentou ele. ― Deu pra ouvir daqui, sabe. ― completou, apontando a própria orelha direta.

― Ah. . . ― Alex não soube o que responder.

Ainda que ela e Ricardo tenham trocado e-mails nas últimas semanas era difícil para a fotógrafa colocar em palavras algumas das coisas que eles haviam escrito com tanta naturalidade nesse meio tempo. Ricardo percebeu essa dificuldade da amiga e tratou de mudar o foco da conversa. Alex agradeceu internamente a delicadeza dele. As duas horas seguintes o nome de Clarisse só foi pronunciado quando o homem contava os casos engraçados ou esdrúxulos que já passara no trabalho, onde a mesma era sua colega vizinha de baia.

Depois de comerem um lanche feito pelo rapaz, este despediu-se e prometeu enviar mensagens. Alex enfim pode observar seu novo lar com cuidado. Já começava a cair à noite e logo os seus pensamentos correram em outras direções.

Clarisse. Sim, ela estava linda. Na verdade muito mais linda do que Alex lembrava. Em todos os sentidos Clarisse havia se tornado mais do que já era na época da faculdade. Na beleza, na voz, na maneira delicada e elegante de vestir-se. Pelo visto ela também estava amadurecendo enquanto profissional e provavelmente como pessoa. Ainda assim, Alex sentiu de imediato, ainda haviam aspectos de Clarisse que precisavam amadurecer muito. Ricardo lhe contara várias coisas por mensagens, antes da sua chegada e tudo indicava aquilo.

Diferente de Clarisse, que mantivera-se fechada para aquele sentimento dividido entre elas durante a faculdade, ao que se sabe sem jamais deixar-se seguir pelas experimentações, Alex vivera de modo um tanto intenso a juventude em uma cidade longe de casa. A fotógrafa não era mais a sonhadora romântica que contentou-se durante quatro anos em apenas estar perto daquela que fora sua grande paixão. Seria impossível para ela manter a relação das duas da mesma maneira que fora no passado. Alex era uma mulher agora, não mais uma garotinha desajeitada do curso de Jornalismo.

Ainda que, como ficara provado em poucos minutos, Alex continuasse completamente apaixonada por Clarisse. Porém seu amor não era mais tão paciente e etéreo quanto outrora. O calor do desejo moldava o seu sentimento de alegria em rever a mulher que amava.

Apesar dos sentimentos antigos, nada mais seria como naqueles tempos, concluiu Alex.

Foi então que o celular da morena deixado sobre a mesinha de centro da sala iluminou-se. Sem muita pressa Alex o alcançou e desbloqueou a tela para ver do que se tratava. No aplicativo de mensagens instantâneas uma pergunta simples de um contato que ela não esperava brilhou na tela:

“Quer sair pra comer alguma coisa?”


 


 


 

Alex surpreendeu-se ao cruzar as portas do restaurante. Localizado no sexto andar de um dos prédios da principal avenida do centro da cidade, toda a parede aos fundos era tomada pela paisagem da cidade iluminada pelas luzes noturnas, através dos paineis de vidro quase imperceptíveis. Dirigindo-se à recepção logo ela estava seguindo a um dos garçons em direção a uma mesa localizada bem ao fundo. Foi fácil reconhecer a figura que a aguardava, já bebericando o que parecia uma dose generosa de um drink. Ao chegar a mulher nem esperou os cumprimentos para dirigir-se a ela com um sorriso enorme:

― Enfim você, Alex. ― disse a mulher de cabelos tingidos de púrpura, vestindo uma combinação de saia e jaquela de couro de um tom mais escuro.

― Oi, Jenifer. ― cumprimentou a fotógrafa, puxando a única cadeira restante da mesa, sem cerimônia.

― Estava ansiosa para te ver, garota. ― começou Jenifer, endireitando um pouco a postura relaxada. ― Já faz mais de um ano desde a última vez!

― É, desde que você veio pra cá. ― completou Alex, após pedir um drink igual ao da outra ao garçom.

― Sim, sim. Mas nós duas sabemos que eu estava apenas me adiantando a você. Nada melhor do que aceitar uma generosa proposta de outra editora e ainda vir para a sua cidade natal, esperar seu retorno. ― disse a designer editorial, exibindo um orgulho enorme pelo seu crescimento profissional.

― Sei. ― murmurou Alex.

― Ora, vamos lá Alex, não seja tão fria. Você sabe que eu não viveria sem você por perto!

Alex riu e concordou com deboche. Já ouvira muitas vezes aquele tipo de declaração regada a álcool. Desde que haviam se conhecido, assim que Alex chegara à divisão da editora na cidade do interior do estado, ela já tivera a oportunidade de observar os esforços de Jenifer para mimá-la com suas conversas em estado embreagado uma centena de vezes:

― Sem essa, Alex. Eu nem bebi tanto assim, esse é o segundo drink! ― defendeu-se Jenifer, lendo com precisão a expressão de descrença da outra. ― É tão difícil assim pra você acreditar que é importante pra mim?

― Jenny, não existe nada para nós além da cama. ― afirmou Alex, rindo-se e tomando um gole do seu drink. A bebida era muito doce, com um toque de acidez e o claro sabor de morango. Pedir o mesmo que Jenifer era sempre uma escolha segura, lembrou-se.

― E o que mais é preciso, querida Alex?! ― exclamou Jenifer, abrindo os braços. ― Temos uma boa convivência, independentes, seguras. Além disso fazemos um sexo dos deuses. Não tem como ser mais perfeito!

Alex desviou os olhos para a paisagem externa antes de responder:

― Não vou negar nada disso. ― disse, fintando a expressão confiante da outra por um momento e depois retornando para as luzes urbanas. ― Mas sou o tipo de pessoa que precisa de algo mais do que isso.

― Hm hm, eu sei. ― disse Jenifer, acompanhando o olhar da fotógrafa. ― Romantismo é uma dessas doenças que nasce com a pessoa e nunca é curada.

Alex riu. Adorava a maneira sincera da outra de falar:

― Já encontrou com a sua eterna amada? ― perguntou Jenifer, depois de alguns minutos em que as duas apenas tomaram suas bebidas e distraíram-se com os carros pequeninos, à distância.

― Sim. Ela e o Ricardo foram me receber no aeroporto.

― Pela sua cara devo dizer que ainda está no zero a zero. ― disse Jenifer e Alex se viu obrigada a encará-la de volta, ponderando a afirmação.

― Não conseguimos quebrar o gelo. ― confessou.

― Ah, chega desse assunto! ― exclamou a designer, com vigor. ― Eu não te convidei para ficar vendo essa cara de cachorro molhado. Vamos pedir alguma coisa para comer. ― completou acenando para o garçom que servia uma mesa próxima.

― Você me convidou para tentar me arrastar para cama depois, eu sei.

― E vou conseguir, não vou? ― provocou Jenifer. Alex apenas riu e desviou os olhos para a paisagem mais uma vez.

Duas horas depois Jenifer parou o carro, um modelo um esportivo de alto valor, na esquina do prédio onde Alex morava. A fotógrafa não estranhou quando a outra apagou o motor:

― Um lugar discreto. ― comentou ela.

― É uma boa localização e minha irmã fez um ótimo trabalho lá dentro. Quem sabe te convido para um chá da tarde qualquer dia desses. ― disse Alex, maquiando o sorriso com pouca eficiência.

― Como é? Não vai me convidar para subir hoje? ― questionou Jenifer, com uma expressão levemente desapontada. Estavam jogando.

― Será que eu deveria? Você sabe, eu já tenho outra pessoa em mente. ― atacou Alex. Apesar disso a fotógrafa não fez objeção à mão que Jenifer passou do câmbio para a sua coxa esquerda.

― Sabe que não sou ciumenta, Alex. ― disse Jenifer, soltando o cinto e curvando mais o corpo na direção da outra. ― Você é minha número um e quero aproveitar tudo, enquanto for possível.

― E depois vai recorrer para sua número dois, três, quatro e cinco? ― perguntou a mulher de cabelos negros, tirando os óculos de aros proeminentes que Jenny utilizava sempre que dirigia ou estava trabalhando. Também livrou-se do cinto, que já havia se tornando uma barreira.

― Talvez. . . Mas saiba que nenhuma delas é como você, Alex. Eu poderia passar a vida inteira só com você. ― sussurrou Jenifer, já com os lábios a poucos centímetros dos da outra.

― Você bebeu, não fale besteiras, Jenny. ― riu-se Alex, passando os braços pelo ombro e cintura de Jenifer.

― Só bebi o suficiente, meu bem. ― concluiu Jenny antes de colocar fim àquela brincadeira, beijando com desejo a outra mulher, que correspondeu ao seu desejo com a mesma intensidade.

As duas gastaram vários minutos ali no carro, aproveitando as sensações das carícias e provocando-se mutuamente por mais. Logo perceberam que aquele espaço já era pequeno demais para o tesão crescente entre as duas. Foi quando Alex sentenciou, ao livrar-se por um momento da língua da amante:

― Melhor subirmos.

Foi só o tempo de Jenifer estacionar o veículo com maior cuidado, na garagem ao lado do prédio. Tiveram sorte de não encontrar ninguém pelos corredores do edifício, no conturbado caminho até o apartamento, onde mais se preocuparam em manter o clima do que se estavam tomando o caminho certo. Um esforço recompensado assim que enfim Alex trancou o apartamento por dentro.

O carro de Jenifer só deixou o estacionamento no final da manhã do dia seguinte.

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Para além das tolas vontades

Tiago Siqueira era um jovem e promissor advogado. Trabalhava nove horas por dia no escritório montado por seu pai, a mais de vinte anos. Seus ternos estavam sempre alinhados e sua mesa mantinha-se limpa e organizada. Seus arquivos digitais e físicos eram os mais bem estruturados do escritório e sua secretária era a mais jovem entre as três que serviam aos atuais seis advogados da associação. Sempre sério e observador em ambiente de trabalho era também um homem saudável, praticante amador de tênis ao qual se dedicava pelo menos em três ocasiões da semana. Seu pai, falecido a alguns anos, sentiria orgulho dele, tinha certeza. Um profissional competente que nos fins de semana visitava a mãe e irmã no interior.

Um homem perfeito, ou quase.

A grande frustração de Tiago era a vida amorosa. Depois de uma juventude cheia de idas e vindas ele enfim havia se apaixonado e vivido o amor, aos vinte e dois anos. Uma mulher inteligente e de bom gosto, bela e gentil que o encantara de todas as formas que é possível fazer a um homem. O advogado planejou pedí-la em casamento, mesmo que eles mal tivesse completado um ano de namoro. Para ele não haviam motivos para esperar pois não seria possível encontrar tal sentimento de admiração novamente por outro alguém. Porém isso não dependia apenas da sua vontade.

Clarisse recusara seu pedido de casamento. Mesmo ele tendo se preocupado em levá-la ao restaurante mais caro e romântico da cidade, pedido o melhor vinho e escolhido a mesa mais discreta. Ela não apenas recusara como também rompera o relacionamento deles na sequência.

Tiago jamais esquecera o momento. Clarisse falara qualquer coisa que soara como um “não é você, mas eu não estou pronta para isso”, levantara e dissera “melhor pararmos com isso por aqui” e saira sem dizer mais nada. Não havia sequer lamentação nos olhos daquela que ele já considerava o grande amor da sua vida.

Mesmo que já tivesse passado quase três anos desde aquela noite de fracasso ele ainda se perguntava onde afinal havia errado. Seria sua culpa que as coisas tivessem terminado daquela maneira tão abrupta?

― Tiago? Você tá dormindo, cara? ― chamou uma voz distante. ― Cara?

Tiago despertou das suas lembranças. Levou alguns segundos para reconhecer o barzinho e também o homem sentado no banco do outro lado da mesinha de madeira. Ricardo o observava com uma expressão perplexa:

― Ah, desculpa. ― disse ele finalmente. Só então suas lembranças de ter chamado o antigo conhecido para tomar umas cervejas. ― Eu acabo ficando meio distante quando lembro desse assunto.

― Se você fica mal quando pensa no que aconteceu, por que me chamou aqui para falar da Clarisse de novo? ― perguntou Ricardo, servindo o copo já vazio do advogado. Aquela era apenas a segunda cerveja que tomavam.

― É que eu não consigo esquecer! Eu preciso entender para conseguir superar! ― exclamou Tiago, pegando o copo e bebendo todo o conteúdo de uma só vez. Ricardo suspirou e o serviu de novo antes de pegar seu próprio copo.

― Olha, eu já tô cansado dessas suas lamentações infinitas. ― começou Ricardo, com a testa franzida. ― Já fazem o que? Quatro anos? A Clarisse já teve meia dúzia de outros namorados e você ainda está lamentando aquela noite!

― Eu sei que você é a única pessoa que pode me esclarecer tudo o que aconteceu, Ricardo. ― acusou Tiago, apontando o indicador para o outro. ― Você é o “melhor amiguinho viado” da Clarisse. É óbvio que você sabe tudo sobre ela!

― Cara. . . ― começou Ricardo, perdendo a paciência bem rápido. ― Não me importo que me chame de viado, afinal é verdade. Só não use essa palavra com esse tom debochado.

― Desculpa, desculpa! Tô só irritado! Só isso! ― esbravejou Tiago, desabotoando os punhos da camisa com irritação. Porém ele já havia feito o jornalista perder o controle sobre as palavras.

― Pra começar nós dois nos conhecemos numa festa gay, você deve se lembrar muito bem. Então não é nem justo ficar me chamando de viado assim quando você não é muito diferente!

― Pera lá! ― Tiago também estava perdendo os limites da conversa. ― Isso faz muito tempo! E eu era bi, não gay. Tanto que o amor da minha vida é a Clarisse! Faz tanto tempo que não fico com um cara que estou quase “prescrevendo” desse meu lado.

Ricardo deu uma risada rouca quando ouviu aquilo. Foi uma sorte, pois isso aliviou também um pouco da sua raiva, substituindo pela vontade incontrolável de destruir algumas ilusões do outro:

― Você é a bicha mais sem noção que eu já conheci, Tiago. Tão cega que não é capaz nem de perceber que ninguém deixa de ser viado por “falta de prática” nem de entender de uma vez por todas que você nunca foi o “lance” da Clarisse. ― explodiu Ricardo, falando com o maxilar apertado.

― Opa, opa, opa! O que você disse?! ― surpreendeu-se Tiago, despertando da sua exasperação, tamanho o sobressalto.

― Sobre você ser uma bicha?

― Não! Sobre a Clarisse!

Foi então que Ricardo deu-se por conta do que dissera e numa reação automática deu um tapa na própria testa. Se tinha um defeito que ele não possuia era o de ser fofoqueiro, porém toda a sua lealdade havia desmoronado em um instante de fúria. Agora o estrago estava feito:

― Anda, explica isso aí, Ricardo. ― exigiu Tiago.

― Cara. . . ― começou Ricado, coçando atrás da orelha e se enclinando para trás. O redator considerou em sair correndo, porém sabia que o outro tinha o físico muito mais preparado e terminaria por alcançá-lo. ― A Clarisse é completamente gay. As únicas pessoas que ainda não sabem disso são você e ela mesma.

― A Clarisse. . . ― começou Tiago, a boca ficando aberta à guisa de espanto, sem que ele conseguisse concluir a frase. ― Ela. . . Ela. . . Mas. . . Não pode.

― Como assim “não pode”? ― estranhou Ricardo, erguendo uma das sobrancelhas.

― Nós transamos várias vezes. ― disse Tiago, usando um argumento que fez as entranhas do outro revirarem em revolta.

― E parece que ela curtiu tanto que te dispensou sem nem pensar duas vezes. ― atacou Ricardo. ― Se liga, cara!

Tiago balbuciou mais uma série de coisas desconexas, parecendo não conseguir formar um novo argumento sem que algo o destruísse antes de ele poder enunciá-lo. Ricardo aproveitou o momento para esfriar um pouco a cabeça com um copo de cerveja e então retomou a conversa com mais paciência:

― Tem gente como você, Tiago, que fica plenamente satisfeito com as duas coisas. ― disse o redator, sentindo-se um professor de Ensino Fundamental, da aula de sociologia ou qualquer coisa semelhante. ― Mas tem gente como nós, eu e a Clarisse, que mesmo que façam com alguém do outro sexo e mesmo gostando, sempre vai sentir que tem alguma coisa errada. É por isso que somos o que somos.

― Você disse que ela não percebeu isso, não disse? ― perguntou Tiago, enfim conseguindo articular uma sentença completa.

― Na real ela é muito boa de se enganar, é o que eu acho. Às vezes sinto vontade de jogar a verdade, mas fico preocupado com a reação dela. ― confessou Ricardo. ― Me preocupo mesmo. Quanto mais o tempo passar mais difícil pode se tornar pra ela aceitar. A gente vai envelhecendo e adquirindo os preconceitos do mundo.

― E eu nunca suspeitei. ― disse Tiago, parecendo mergulhado mais uma vez em seus devaneios. Estava tentando recordar de qualquer situação onde poderia ter ficado evidente aquele fato, mas nada lhe vinha ao pensamento.

― Será que agora você é capaz de desencanar? ― perguntou Ricardo, depois de acenar para o balcão do bar pedindo mais uma cerveja.

― Acho que sim.

― Sério? Você é mesmo pragmático. ― surpreendeu-se o jornalista.

Os dois homens continuaram bebendo até esvaziarem a terceira garrafa. Não conversaram muito nesse meio tempo. Ricardo permitiu ao outro vagar por sua lembranças em busca de comprovações. Na verdade ele mesmo estava um tanto perdido em devaneios, enquanto fintava o advogado sem disfarce. Quando terminou o último gole de bebida, Ricardo sem aviso levantou-se e atirou algumas notas no centro da mesa, pagando sua parte na conta:

― E sobre aquilo de “prescrever”, acho que você só ainda não encontrou um cara legal que vai te tirar da linha heteronormativa de vez. ― disse, virando e saindo sem se despedir.


 


 


 

Os dias estavam ficando mais quentes com a aproximação do verão. Nas ruas as decorações de natal já começavam a ser vistas. O calendário do comércio era pontual em começar suas campanhas, na segunda-feira seguinte ao Dia das Crianças.

Clarisse estava atribulada com todas as tarefas inesperadas que recebera. Com a saída de um importante editor por motivos de saúde o seu chefe direto havia sido promovido e a redatora, uma das suas pessoas de confiança, ganhara uma série de responsabilidades com relação à edição especial de final de ano da Revista. Ainda que ela estivesse feliz pela oportunidade o peso das novas responsabilidades como assistente direta do novo Editor Chefe estavam a desgastando em demasia.

“Woa! Isso está ótimo, Alex!” Clarisse ouviu a voz familiar do chefe exclamar do outro lado da redação. Sem perceber a redatora parou a escrita de um e-mail e virou o olhar para enxergar o que acontecia. Ela viu a fotógrafa e o editor sentados à mesa deste:

― Sem falsos elogios, Valter. ― disse Alex.

― Não é falso. Era exatamente o que estávamos procurando para a capa. ― disse Valter, um homem de meia idade e já um pouco calvo. ― Só um instante. ― disse, vasculhando com os olhos a redação. Para a surpresa de Clarisse ele sorriu quando cruzou os olhos com os dela. ― Clarisse! Vem aqui mulher! Temos uma nova capa!

Clarisse levantou e cruzou entre as baias o mais rápido possível, apesar do desconforto. Já fazia quase um mês desde que Alex assumira sua função como fotógrafa na editora, porém as duas mal tinham trocado alguns pares de cumprimentos naquele meio tempo. A presença da amiga ainda era algo que desconsertava Clarisse um tanto. Ainda assim esta tentou parecer o mais profissional o possível quando chegou até Alex e Valter:

― Clarisse. Dá uma olhada nisso aqui. ― disse Valter, passando uma folha para a assistente e redatora. ― Me diz se não é perfeito!

― Está ótimo mesmo. . . ― disse Clarisse, observando os detalhes da imagem. ― Você fez a edição, Alex?

― Ah, sim. A gente tem que saber se virar com essas coisas, pra não ficar tão dependente dos designers. ― disse a fotógrafa, sorrindo.

― Está decidido. Não vou fazer outra reunião só para isto. ― sentenciou Valter, animado.

― Mas, senhor, a capa já não havia sido aprovada? Não acho que o Gustavo vá gostar de ser tirado assim. ― alertou Clarisse.

― Ai, ai. Eu sei disso, Clarisse. ― disse Valter, franzindo a testa. ― Eu mesmo vou falar com o Gustavo. A questão é que não podemos deixar de usar uma arte melhor por causa do ego de um dos nossos artistas. Ele é ótimo e vai ter muitas outras capas no futuro.

― Eu só estava alertando, senhor. Também acho que devemos usar esta. ― corrigiu-se Clarisse. Mesmo sem virar-se ela pode sentir o olhar de Alex sobre si quando disse isto.

― Certo, certo. Obrigado por isto, Clarisse. ― disse Valter. ― Alex, deixe-me cumprimentá-la por sua primeira capa logo no primeiro mês conosco! ― completou ele, estendendo a mão que foi prontamente correspondida pela fotógrafa.

― Muito obrigada, Valter. Valeu mesmo! ― disse Alex, só sorrisos.

Percebendo o final da mini-reunião, Clarisse despediu-se e saiu da redação para ir à pequena sala anexa, onde ficava o café. Àquela hora, pouco antes do almoço, o local costumava estar vazio. Depois de servir-se de uma dose generosa da bebida, a redatora recostou-se ao lado da janela e desfrutou um pouco da brisa do exterior. Ela estava de costas para a porta quando ouviu o estalo desta ao ser aberta:

― Ah, você está aqui.

Clarisse virou o rosto na direção da entrada ao perceber a voz de Alex. A fotógrafa deixou a porta atrás de si fechar antes de mexer-se:

― Oi, de novo. ― cumprimentou Clarisse, acenando com o copo. Alex foi até a cafeteira para servir-se. Nenhuma das duas falou até a fotógrafa apoiar-se também na janela para observar a paisagem urbana.

― Você anda bem cheia de serviço, não é? ― comentou esta.

― Pois é. Espero que meu contracheque seja correspondente a essa trabalheira. ― disse Clarisse. Alex deu uma risada desse comentário.

― Ainda acho que você e o Valter estão conspirando para tentar aumentar meu ego. Capa logo no primeiro mês. . .

― Nada disso. Eu achei sua imagem excelente. Não sabia que você editava naquele nível. ― confessou Clarisse com sinceridade. A outra nada respondeu a isto, mas deixou escapar um sorriso orgulhoso.

O silêncio predominou novamente enquanto ambas apreciavam as bebidas. Clarisse foi a primeira que terminou o café e num movimento atirou o copo descartável na lixeira discreta ao lado do pequeno balcão onde estava a cafeteira. Alex parecia estar esperando aquele momento:

― Então, Clarisse, eu estava pensando. . . ― começou a morena, ainda observando a paisagem. ― Será que você não quer dar umas voltas qualquer dia desses? Desopilar dessa montanha de serviço. ― convidou Alex. Clarisse gaguejou alguma coisa antes de responder.

― Quem sabe, né, seria bom. A gente fala com o Ricardo. Ele conhece uns lugares muito bons. ― comentou Clarisse transparecendo um tanto de nervosismo.

― Não. ― cortou Alex.

― Não? ― repetiu Clarisse, sem entender. A morena então tirou os olhos dos prédios e encarou a expressão interrogativa da outra.

― Quis dizer que nós duas poderíamos dar umas voltas. ― explicou Alex, a expressão séria, encarando os olhos amendoados de Clarisse sem sequer piscar.

― A-Ah. . . ― murmurou Clarisse, em entendimento.

― Tem uma cafeteria na zona norte que parece ótima. Uma amiga me indicou. ― comentou a fotógrafa, desanuviando um pouco a expressão.

― Sei. . . ― disse Clarisse, parecendo atordoada. ― B-Bom, então depois combinamos! Só me passar uma mensagem mais tarde que a gente vê os detalhes, ok? ― continuou ela, ajeitando-se com pressa e tomando o caminho da porta.

― Clarisse.

― Sim? ― perguntou esta, virando-se.

― Você não me passou seu número ainda. ― Alex pareceu divertir-se diante do nervosismo óbvio de Clarisse.

― É mesmo! Também não tenho o seu. ― disse Clarisse, sacando o celular. As duas trocaram os números e a redatora saiu dando apenas uma guisa de “até depois”.

Para Alex foi o suficiente.

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Clarisse e Alex, Final

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